Exame de genética (Teste Farmacogenético) realmente funciona na Psiquiatria?
Descrição : Caros colegas médicos e profissionais da área de saúde,fui convidado para falar um pouquinho sobre a experiência no consultório nestes últimos anos com este tipo de tecnologia (genotipagem) que vem sendo incorporada pela medicina personalizada. Foi um Seminário organizado pela empresa GnTech sobre Farmacogenética no Brasil, que ocorreu em São Paulo no dia 12/04, às 19:00hs na Eretz.bio (Eretz.bio | Incubadora de Startups do Hospital Albert Einstein) localizada na Vila Mariana.
Me chamo Luiz Dieckmann e sou Psiquiatra aqui em SP capital. O assunto do momento é a genotipagem e a entrevista do Jorge Pontual, e as críticas em relação ao tom dado na reportagem, como se testes pudessem substituir escolhas médicas, o que claramente não é verdade. Sou fã de genética e psicofarmacologia e tenho acompanhado e usado no meu consultório nos últimos anos e visto a evolução da técnica e do nivel de evidência de cada um dos genes propostos, com muita esperança em dias melhores para nossos pacientes. Já fiz inúmeros testes no Lim 27(USP SP) , Neurofarmagen (Espanha representada pela Bago), Genomic (são Paulo), SureX (EUA), Fleury (que manda pra Clínica Mayo -EUA) , na Gntech (que realiza atualmente os exames no Einstein) e mais duas empresas que fecharam nos EUA no passado. Não estou aqui pra discutir o que é melhor ou pior neste momento, opiniões vão divergir. Felizmente a psicofarmacologia avançou MUITO , mas Apesar dessas melhorias, uma porcentagem significativa de pacientes não alcançam os benefícios adequados com ostratamentos atuais ou experimentam efeitos adversos que afetam negativamente sua qualidade de vida. Nossa torcida é sempre que as pesquisas produzam novos tratamentos eficazes para esses indivíduos, bem como biomarcadores cada vez mais apurados para tentar nos ajudar. NÃO TEM NADA RELACIONADO COM DIAGNÓSTICO, e sim com as escolhas que vamos fazer CASO A MEDICAÇÃO seja necessário (o que sabemos que muitas vezes não é).Se faz a partir da análise de genes e variantes que, sabidamente, estão relacionados com a resposta, metabolismo e toxicidade dos medicamentos). Os testes podem ir muito além de avaliar somente metabolização pela CYP 450. Na última década, houveram avanços substanciais na compreensão da variabilidade genética associada à resposta aos fármacos (eficácia e toxicidade) e requisitos para ajuste de dosagem dos mesmos para determinado grupo de pacientes. Em alguns casos, essas associações genéticas (gene-fármaco) foram amplamente replicadas e os efeitos são suficientemente comprovados para que sejam preditivas e robustas para serem úteis no cenário clínico.
Ainda outros casos bem sucedidos originaram as publicações de diretrizes de dosagem baseadas em relações fármaco-gene que se sabe serem clinicamente acionáveis pelo Consórcio de Implementação de Farmacogenética Clínica (CPIC) (https://cpicpgx.org). Até o momento 33 guidelines CPIC foram publicadas e revisadas no site https://cpicpgx.org/guidelines/ (vale a pena checar os níveis de evidências de cada gene, leitura super interessante)
A pergunta é sempre sobre quais variantes genéticas se têm evidência suficientemente robusta para orientar a tomada de decisão clínica?
Existem testes chamados apenas de metabolização, ou seja, que avaliam a família da CYP450 com as subfamílias principais :2D6,2C9, 2C19,1A2, 3A4,3A5,2B6
O interessante é que hoje, além destes genes de metabolização, podemos avaliar
os genes chamados de resposta e toxicidade. Olhem por exemplo o gene SLC6A4, que esta relacionado com o transportador de serotonina, é um bom exemplo.
Em vez de fornecer uma nova terapia, a grande maioria dos achados farmacogenéticos estão simplesmente complementando o conhecimento do médico sobre medicamentos previamente aprovados. Os médicos já utilizam os precedentes clínicos de seus pacientes (peso, gênero, função orgânica presumida, interação medicamentosa, conformidade) ao tomar decisões sobre fármacos prescritos.
Não é uma panacéia, longe disso! Mas para pacientes refratários ou que tenham condições financeiras (mesmo sem ser refratário), são dados que ajudam muito a ERRAR MENOS. É essa a mentalidade que temos que ter. Se eu pego um metabolizador ultrarapido de 2D6, pra que insitir com paroxetina, venlafaxina, vortioxetina, pula pra outro gene de metabolização. Se você já sabe que os transportadores de serotonina, e alguns receptores de serotonina tem alterações já encontradas(ht1a, ht2a por exemplo) não seria caso de pensar numa mirtazapina? Numa bupropiona? Mais do que explicar algo, queria deixar estes pontos de discussão.